Como nos foi facultado escolher sobre o assunto que desenvolveríamos a presente atividade, optei por um tema que acompanhei e continuo acompanhando a décadas, o das relações homem-mulher, mencionado como um dos antagonismos transversal ao das lutas de classe. Não na condição de feminista, e sim na simples condição de mulher que com quase 60 anos teve vivências tanto positivas quanto negativas quanto ao seu novo papel, a sua reconstrução e agora desempenhando um novo papel na ecologia social.
Começo pela aquisição do direito ao voto da mulher brasileira, que ocorreu na década de 30 no século passado e não contemplou a todas, neste primeiro momento, só conquistaram a prerrogativa, atentemos ao detalhe, as casadas com autorização do marido e algumas solteiras ou viúvas que tivessem renda própria. Obviamente que houve uma evolução por parte da mulher, mas e o homem? Se disputarmos um lugar de executiva no mercado de trabalho com o sexo oposto em uma empresa privada e se conseguirmos, muitas já conseguiram, os critérios serão diferentes para currículos semelhantes de formação e experiência. A preferência será dada ao masculino, não por questão de gênero, mas porque a mulher além da sua dedicação profissional tem outras atividades, outras obrigações e quer desempenhar a todas com esmero. Em recente pesquisa sobre o mercado de trabalho, divulgada no e para o estado do RS ratifica-se a triste realidade de que os salários das mulheres são ainda inferiores. Constata-se situação diferente nos concursos públicos onde a maioria dos provimentos dos cargos é feita pelo feminino, não esquecendo que nos bancos escolares, nos seus diversos níveis, há a predominância também delas. Aparentemente, falar em remuneração inferior dá a impressão que se fala no que essa poderia oferecer na aquisição de coisas frívolas do universo feminino, não me refiro a isso, e sim a condição atual da mulher que desponta como a principal mantenedora da família, incluindo aí ascendentes e descendentes.
O texto em pauta foi extraído de um livro editado em 1997. Após todo esse tempo não podemos negar que temos ainda o atravessamento nas relações, porém não posso deixar de mencionar que naquele ano, a mulher já tinha saído do seu ambiente doméstico, enquanto o homem sempre esteve no público como o grande provedor da família. Como exemplos da evolução da busca pela igualdade e justiça têm a alteração da legislação onde o homem adquiriu, inclusive, o direito à pensão alimentícia e a guarda compartilhada dos filhos em caso de separação. Sendo que o primeiro era uma obrigação tipicamente masculina e o segundo, embora o pai tivesse o direito de visitar os filhos, a guarda era da mãe.
A mídia trouxe um contraditório à conquista do movimento feminino, porque o estar na moda, ser magra, bem-sucedida e boa mãe tornou-se uma exigência. Muitas vezes, a mulher torna-se quase que irreconhecível reconstruída em cima de um ideal de beleza e perfeição físico, perdendo a sua individualidade e transformando-se, quiçá em um clichê de uma top model famosa, de acordo com as regras do mercado. Mas se pensarmos que esses fatos ficam restritos ao dito mundo feminino, ledo engano, hoje temos um homem que ao mesmo que está aprendendo a dividir as atividades da casa, está fazendo depilação, plástica, buscando um corpo musculoso, abdômen definido e, acima de tudo tomando pílula para a manutenção da sua propalada virilidade. O que ocorreu? Penso que se instaurou a competição entre ambos, a prevalência do culto ao corpo com a conseqüente mutação das relações pessoais, não conseguiram a manutenção de sua subjetividade como conseqüência de tanta manipulação. Resultaram em um estereótipo de uma sociedade desterritorializações.
Concordo com o autor quando escreve sobre a permanência das diferenças na relação homem-mulher, reputo que a mais importante ainda mantida seja a da violência contra a mulher. A globalização deu velocidade às informações das mais variadas partes do mundo, das diferentes culturas e então tomamos conhecimento a cada dia de uma nova barbárie cometida, com as agressões variando na sua causa, mas não no seu fim, o de puni-la por atos que o homem julgue como delito, então evoca o direito de penalizá-la da forma que melhor lhe aprouver e, muitas vezes a sentença é a de morte. Existem países em que ela ainda permanece sob o subjugo patriarcal, sendo que a sua posse é passada do pai para o marido, em outro lhe ceifam a sua sexualidade, como também existem aqueles em que ela é penalizada pela sua emancipação, quando exerce o seu livre-arbítrio de escolha e/ou permanência com o atual ou ex-parceiro ou muitas vezes por estar cansada e com a sua saúde física e/ou mental abalada de tanta violência doméstica ou de outro tipo, sendo a primeira a mais comum no Brasil, para tentar remediar essa situação foi criada a Lei Maria da Penha, legislação específica para punir o seu agressor, mas se tem informações que houve a manifestação de um magistrado que alegava que houve somente a promulgação e não a sua regulamentação, portanto não poderia ser aplicá-la.
Para concluir, penso que ambos tem uma característica em comum que é o desejo de não envelhecer, parecem ignorar a finitude, essa não compõe as suas singularidades vivem e se comportam como se assim fossem se perpetuarem para a vida eterna, as mulheres mais próximas em sua juventude aparente com as suas filhas e os homens aqui no senso comum “uns gatões”. Para eles mulheres de suas idades são para cuidarem de seus filhos oriundos da relação anterior e às vezes lhes recompensam como uma módica pensão dando-lhes uma condição de sub, impossibilitando-as de continuarem usufruindo de uma sua vida confortável e sem preocupações financeiras, enquanto esposa daquele senhor, essa não é uma opinião pessoal e, sim uma constatação. As constatações e/ou realidades aqui mencionadas ficam aquém de todo o conjunto formado pela ecosofia composta pelas três ecologias - a do meio ambiente, o das relações sociais e o da subjetividade humana -. Sabemos também, que não podemos retroceder no tempo para que façamos os ajustes necessários, mas com certeza não podemos continuar tendo um olhar isolado sobre uma delas nos moldes da “psicologia newtoniana”, temos sim que começar a atuar no todo de uma forma holística, para isso faz-se premente a adoção de novos comportamentos.