Fazendo uso do termo de referência, o qual Guattari chama de Ecosofia – uma perspectiva onde há uma articulação ético- política entre o meio ambiente , as relações sociais e a subjetividade humana; percebo que vivemos num período onde se questiona maneiras de vida dentro de um contexto de mutações, transformações, desequilíbrios. O desenvolvimento tecnológico, assim como o trabalho maquínico cada vez mais estão substituindo a atividade humana, gerando desemprego, angústia, depressão. A crise ecológica só terá solução se houver além de forças políticas, social e cultural; também micro domínios de sensibilidade, de inteligência e de desejo. Vê-se hoje um trabalho social regulado por uma economia de lucro, por relações de poder e valores equivocados, colocando os bens materiais, culturais, as áreas naturais num mesmo plano de equivalência ; assim estas atividades humanas que possuíam um antagonismo do mundo capitalista dão lugar ao serialismo de mídia – mesmo ideal de status: mesma moda, mesma maneira de viver, mesma música...
Porém este serialismo parece estimular as zonas de miséria, fome e morte integrando o monstruoso Sistema Capitalista Mundial Integrado ( globalização) onde situam-se as Novas Potências; estas apresentando paradoxalmente o desenvolvimento de novos meios técnico-científicos capazes da resolução de problemáticas ecológicas e reequilíbrio de atividades úteis para o planeta e por outro lado a incapacidade de formações subjetivas que possam se apropriar de meios para torná-los operativos.
Este mesmo serialismo midiático que manipula mentalmente os jovens pela produção de subjetividade coletiva não consegue se apropriar totalmente da juventude. Estes ainda fazem suas reinvindicações singulares, que a princípio geram movimentos marginais, mas que aos poucos vão se subjetivar para incorporarem as diferenças raciais, de gênero...Será neste contexto de descentramento e ruptura, num processo de singularização que surgirão problemáticas ecológicas em escalas individuais e coletivas, num processo de existência humana ético-política.
A ecosofia social como processo de existência humana reinventa práticas e maneiras de ser na família, no casal. A ecosofia mental reinventa a relação do sujeito com o corpo, com o inconsciente, com o tempo, com a vida e a morte.
O sujeito é o componente de subjetivação, pois seus processos subjetivos são ininterruptos em qualquer instância. Sempre dá idéia de dinâmica quando se fala de sujeito; e com ela aparecem dois modos de apreensão: pelo conceito ou pelo afeto. Afeto, aquilo que nos toca, que nos afeta, que nos acontece. Isto vem acontecendo como o que podemos chamar de devires; porém devires tecnológicos, informatizados; numa crescente produção de subjetividade computadorizada, ou assistida como no programa Big Brother. Assim, frente a degradação alimentada por este mundo globalizado, informatizado e midiático há uma infantilização de opinião, tudo é racionalizado. Não se pode separar a natureza da cultura. Precisa-se urgentemente pensar transversalmente, interar os ecossistemas com os sociais e individuais, respeitando-os e vice-versa, num sistema de mutualidade com o objetivo de retomar o controle de situações.
Ainda hoje, se assiste em alguns países modos de subjetivação arcaicos, onde se observa a opressão das mulheres e crianças, e assim também é com a natureza. Esta ecologia maquínica trava uma guerra contra a vida. É importante e
requer muita pressa a adoção de uma ética ecosófica e de uma política que tenha como seu principal foco o destino da humanidade. Porém esta deverá manifestar movimentos múltiplos, geradores de formas, instâncias, dispositivos produtores de subjetividades de referência estética, técnico-científicas, das apreensões pessoais do tempo, do corpo, do desejo; tanto individual como coletiva. Os três registros da ecosofia não podem ser trabalhados isoladamente. O fato de se ver as coisas fragmentadamente, gera subjetivações muito categóricas. O processo deverá ser interligado, contínuo de re-singularização, não se ter somente um olhar com um viés teórico para o sujeito; mas perceber muitos outros atravessamentos, com novos paradigmas de inspiração ético-estéticas.
A subjetividade aparecerá então no meio ambiente, nas paisagens, nos inconscientes mais profundos de cada indivíduo, que, ao mesmo tempo diferentes com um grau significativo de solidariedade.
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